Agora que os remakes se tornaram parte da originalidade contemporânea (carros; filmes; músicas; estilos – da arquitectura ao vestuário – vão repetindo modelos do passado), o que era surpreendente era que os originais literários não fossem eles próprios refeitos.

Tal atraso ficou certamente a dever-se à sobrevalorização da originalidade nos meios literários: em vez de admitir que andamos há séculos a reescrever Shakespeare, cada novo Autor se engana a si – e engana os outros – pretendendo ter criado uma nova obra. Pierre Menard, que era um verdadeiro original, recriou, palavra a palavra, o
Quixote; muito naturalmente, não teve seguidores. O caminho entre a clonagem perfeita e a originalidade formal havia de estar, portanto, na variação das formas, na adição dos conteúdos, na melhoria da performance do livro – numa palavra: no tuning.

A experiência dos Quirk Classics foi a de aplicar um kit de transformação ao original de modo a fazê-lo passar para o universo da origem da intervenção. Pride and Prejudice and Zombies (2009) é literatura clássica convertida às convenções do sub-género dos mortos-vivos, e Sense and Sensibility and Sea Monsters (2009) rende-se aos protocolos do sub-género dos monstros marinhos – em ambos os casos com reciclagem das características dos personagens originais, e cerzindo, de forma imperceptível para o leigo, os eventos típicos dos respectivos sub-géneros nos lugares e nos tempos dos textos base. Esta operação de metamorfose de obras clássicas da literatura é uma variante do ready made: sobre-impondo-lhes elementos estranhos, obtém-se a sua deslocação para outra área de sentido.

Nas Viagens na Minha Terra com Vampiros, a primeira experiência de um Clássico Artilhado em língua portuguesa, sobrepus à estrutura original de Almeida Garrett um conjunto de elementos exógenos correspondentes a um sub-género anacrónico. Porém, ao invés do blending dos Quirk Classics, mantive o apartheid das duas componentes, tornando-as distrinçáveis para o leitor atento. E, sobretudo, tentei não deixar deslizar o texto intervencionado para o universo do sub-género aditado: por adições e subtracções, que pretendi cirúrgicas, fiz coexistir os métodos narrativos originais e os que importei do livro clássico do género (Dracula, de Bram Stoker – de que o presente livro seria uma prequela, por razões que serão óbvias ao leitor), de modo a que o todo fosse portador de um sentido que não estava em nenhuma das suas partes.

Assim, em vez de o original ser absorvido pelas alterações, absorveu-as e sujeitou-as à sua lógica. Não é um livro de vampiros: são as Viagens na Minha Terra – como poderiam ser com eles.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Simetria

Mesmo sem ter lido a badana da contra-capa, o Octávio dos Santos figured it out.

check

http://blog.simetria.org/classicos-%C2%ABmodernizados%C2%BB/comment-page-1/#comment-972

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

BREVEMENTE, na
 mesma 
colecção 
de 
CLÁSSICOS ARTILHADOS:


- A PEREGRINAÇÃO, COM ROTEIRO GASTRONÓMICO

‐ 
EURICO,
 O
 PRESBÍTERO,
 COM FADAS E DUENDES

‐
 A 
QUEDA
 DE
 UM 
ANJO,
 COM ESPIÕES

‐ MENINA 
E 
MOÇA,
 hard core




‐
 OS 
MAIAS,
 COM EXTRATERRESTRES

‐
 UMA
 FAMÍLIA 
INGLESA,
 COM PROBLEMAS COM A GESTAPO

‐
 FREI
 LUÍS 
DE
 SOUSA,
 COM ÍNDIOS E COWBOYS

‐
 O 
MANDARIM,
 COM PIRATAS

‐
 AMOR
 DE
 PERDIÇÃO,
 COM MORTOS-VIVOS

‐
A 
CIDADE 
E
 AS 
SERRAS,
 COM LOBISOMENS 



Cadastro de Almeida Garrett na Wikipédia

João Baptista da Silva Leitão de Almeida e mais tarde visconde de Almeida Garrett, (Porto, 4 de Fevereiro de 1799 — Lisboa, 9 de Dezembro de 1854) foi um escritor e dramaturgo romântico, orador, Par do Reino, ministro e secretário de Estado honorário português.
Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.